
A história da Daniela, uma pessoa inspiradora, apaixonada por maquilhagem e com uma força enorme para superar desafios começa como tantas outras, sem aviso prévio. Nasceu em Lisboa em 1993, e desde pequenina que as visitas aos hospitais faziam parte da sua realidade pelo facto de ser asmática, o que a fazia recorrer por várias vezes a consultas no hospital.
Aos dezasseis anos partiu para a Holanda, onde ficou até aos dezoito anos. Neste período não prosseguiu os estudos, dedicando-se somente a cuidar da sua irmã. Relata que foi uma experiência menos positiva, dado que deixar os amigos, família e escola em Portugal foi bastante complicado.
Quando completou dezoito anos, decidiu voltar para Portugal, de modo a completar a sua formação numa matéria que a apaixona, a estética. Acontece que quando estava prestes a terminar o seu curso, no último ano do mesmo, durante uma aula prática de massagem sentiu dores tão fortes que não conseguia permanecer na mesma posição. Primeiramente, a sua avó, com quem vivia, disse que poderia ser do frio, visto que era dezembro. Porém, a dor não passava o que a fez deslocar a uma consulta. Aqui foi-lhe informado que a sua condição era do foro nervoso e que deveria comer “pipocas”, de modo a ajudar ao funcionamento do intestino. Certo que ao chegar a casa, as dores continuavam de tal maneira fortes que no dia seguinte viu-se obrigada a ir às urgências do Hospital de São José. Praticamente na hora os médicos diagnosticaram-lhe um tumor e indicaram que teria que fazer radioterapia, quimioterapia e posteriormente operada de modo a construir um estoma. No entanto, ao saber que a radioterapia poderia fazer com que não viesse a engravidar, dada a agressividade do procedimento, preferiu não dar seguimento aos tratamentos naquele momento. Surge a solução da técnica de punção dos óvulos, o que permitia preservá-los, para que um dia mais tarde pudesse ter filhos. Só depois deste procedimento, que a obrigava a visitar a maternidade todos os dias de manhã, é que iniciou os tratamentos de radioterapia e quimioterapia, esta última através de comprimidos. Enquanto aguardava pela sua operação, desenvolveu uma infeção no intestino, o que a levou a ser internada para que seguidamente fosse finalmente intervencionada, ficando com uma colostomia.

Quanto à sua ostomia, no início diz que foi muito difícil. Quando a sua enfermeira a informou que teria que ficar com um saco de ostomia, não aceitou, não podia ser solução, pois como faria a sua vida normal, se agora utilizava um saco de ostomia? Inclusivamente, após a cirurgia, recusava-se a olhar para o seu estoma. Foi somente quando a sua irmã a visitou, que, de certo modo obrigada, viu o seu estoma pela primeira vez. Aí ficou impressionada pela simplicidade, o que a fez aceitá-lo melhor. Além disso, só teria alta no momento em que soubesse cuidar de si autonomamente, algo que impulsionou a aceitação, pois de um dia para o outro, aprendeu como o fazer, ao pedir à enfermeira que a ensinasse, tendo alta no dia seguinte. Admite que nos primeiros tempos fazia-lhe confusão, não se sentia sequer à vontade de cuidar de si e do seu estoma, contando com a sua avó para tal. Até que tomou a decisão de tomar as rédeas e cuidar de si própria. Todo este processo fê-la aceitar a sua ostomia. Tanto que diz que inclusivamente brincava quando ia por exemplo às compras, e ao perguntarem “quer saco?” muitas vezes dizia para a sua prima ou avó, “não é preciso, eu já tenho”.
Voltou a ser intervencionada, desta vez no IPO do Porto, onde ficou um mês internada. Aqui, dada a sua história e força de vontade, chegou a conversar e motivar outra pessoa que não queria aceitar a sua ostomia, algo que diz que gostava de terem feito consigo, pois o facto de ouvir de alguém com uma situação semelhante, é mais motivador.
A Daniela é sem dúvida um exemplo de força de vontade e naturalidade tanto que, entre as duas intervenções a que foi submetida, Daniela fez quimioterapia intravenosa. Aqui o médico explicou-lhe que o seu cabelo poderia cair, ao que Daniela, com toda a naturalidade respondeu “Cresce novamente não cresce? Se sim, então quando começar a cair, eu rapo, não tem mal nenhum. Ele depois cresce”. Hoje em dia vai à praia de biquíni, sem qualquer pudor e não liga ao que as pessoas possam pensar. Foram estas características de força e vontade de seguir em frente que a ajudaram a superar toda a situação. E algo muito importante igualmente, o apoio à sua volta de amigos, família e do seu namorado.

Por falar no seu namorado, não podemos deixar de falar, ainda por cima no mês que celebra o amor, na história que une a Daniela ao Sandro. Pois bem que o regresso a Portugal não trouxe só a possibilidade de seguir os estudos numa área que a apaixona. Permitiu conhecer quem viria a ser uma paixão e hoje é o seu companheiro. Porém, a história de ambos não começa logo no momento em que se conhecem. Nessa altura, chegaram a encontrar-se para um café, mas depois nada aconteceu. Só passado algum tempo, ao encontrarem-se por acaso enquanto os dois estavam a trabalhar é que aquela paixão adormecida se desenvolveu, e permanece. Sandro é atualmente uma grande fonte de apoio e força. Havia tanto amor entre eles durante a sessão fotográfica que parecia que se fazia uma sessão para um casamento. Para quem foi recentemente ou irá ser intervencionado diz que tudo é uma aprendizagem. No início não achava que uma ostomia fosse o melhor para si, no entanto é. Temos que aceitar as coisas, pois vêm por algum motivo. Afirma que se pudesse voltar atrás e tirar o saco, não queria, pois já faz parte de si e da sua vida. “Nós conseguimos tudo”.