Rosa Maria Costa Gonçalves nasceu a 9 de março de 1966, e é daquelas pessoas que não passam despercebidas. Com 58 anos e uma carreira como costureira, Rosa tem uma história de vida marcada pela superação. A sua jornada começou em 2005, quando, aos 38 anos, foi diagnosticada com cancro no intestino. Este diagnóstico mudou-lhe a vida, mas não lhe tirou o sorriso.
O Início de Tudo
Era 2005 e Rosa sentia-se estranha. O desconforto abdominal tornava-se cada vez mais insuportável e a vontade de evacuar sem sucesso começava a preocupar. Em conversa com as irmãs, seguiu o conselho de comer kivi, mas a sensação de ardor no ânus não passava. Algo não estava bem. Durante umas férias em maio, a situação piorou: os vestígios de sangue tornaram-se mais frequentes. Ainda pensou que fossem hemorroidas, mas o marido, preocupado, insistiu para que procurasse ajuda médica.
E foi aí que o mundo de Rosa começou por sofrer mudanças drásticas. A colonoscopia, revelou um tumor friável, uma notícia dura, especialmente para quem, como Rosa, tinha apenas 38 anos. O médico repetiu a idade várias vezes, talvez tentando processar a gravidade do que via. Percebeu o resultado só quando mostrou o resultado à médica que a acompanhava. Mas Rosa, fiel ao seu espírito positivo, não se deixou abalar. "Nunca fiquei assustada", conta. "Queria acreditar que a médica estava enganada, mas aceitei logo o que tinha de ser feito. Só não queria morrer."
Uma Batalha Corajosa
O tratamento foi longo e intenso: 28 sessões de radioterapia e quimioterapia em comprimidos. O tumor parecia ter desaparecido nos exames, mas o risco de estar escondido era real. Rosa preferiu a certeza à dúvida e decidiu pela cirurgia. “Era melhor ser operada do que arriscar”, explica.
Em março de 2005, submeteu-se àquela que viria a ser a primeira cirurgia. Anos depois, em 2020, Rosa voltou à mesa de operações para remover dois pólipos que não podiam ser tratados através de colonoscopia. Desta vez, a solução foi uma colostomia. Um passo difícil, mas necessário para continuar a viver.
Rir é o Melhor Remédio
O diagnóstico de cancro é uma notícia que abalaria qualquer pessoa. Mas Rosa nunca foi uma pessoa comum. O que podia ter sido um período de tristeza e medo transformou-se num momento de força e alegria. Rosa ria-se, fazia piadas e, surpreendentemente, era ela quem dava força à família. "Sempre disse que temos de ir para cima, se formos para baixo, é pior."
A adaptação à colostomia foi complicada. Durante os primeiros seis meses, sentia que todos olhavam para ela. Mas Rosa, mais uma vez, deu a volta por cima. Aprendeu a viver com a nova realidade e, hoje, confessa que, por vezes, até se esquece que tem o saco. “É meu, estou viva”, repete.
Família: O Pilar que Nunca Desmorona
A família de Rosa sempre esteve ao seu lado. O marido, os filhos, todos a apoiaram. Mas, como nem tudo é fácil, teve de enfrentar a perda do marido. Terminou a relação com Rosa, num segundo momento de dor profunda que descreve como “a morte dele em vida”. Isto porque acabou por falecer tempos mais tarde. Apesar da tristeza, Rosa encontrou um novo companheiro, dois anos após a perda do marido. Há 16 anos juntos, aceitou-a tal como é e trata-a com todo o carinho e respeito.
Uma das memórias mais ternas que guarda é do filho mais novo, que na altura da primeira cirurgia tinha 14 anos. Com uma maturidade além da idade, ele calçava as luvas e ajudava a mãe a trocar o saco. "Tivemos de aprender juntos", diz Rosa, emocionada.
A Vida Hoje: Viver Plenamente
Apesar de todas as adversidades, Rosa vive a vida ao máximo. A sua rotina inclui cuidar da casa, visitar a mãe de 88 anos e apoiar a sobrinha, que faz vendas online. E, claro, as suas tardes não estão completas sem assistir ao programa "Tardes da Júlia".
Mesmo com a colostomia, Rosa não se priva de nada. Vai a jantares, convive, come, bebe e, acima de tudo, sente-se feliz. Em 2020, após a cirurgia, tomou a decisão de deixar de fumar, pondo fim a um vício de 40 anos. "O tabaco era mais uma prisão do que a colostomia", reflete.
Uma Lição de Vida
Rosa Maria é um exemplo vivo de que a vida pode ser maravilhosa, mesmo quando nos coloca à prova. "Sou uma pessoa feliz, e a colostomia não vai tirar a minha alegria", afirma com convicção. Rosa acredita que a vida é para ser vivida, que devemos agarrar-nos ao que nos dá força e continuar a seguir em frente, com um sorriso no rosto e amor no coração.
E é com este espírito que Rosa partilha a sua história, não apenas para inspirar, mas para mostrar que, com coragem, fé e apoio, podemos superar qualquer obstáculo.