Ostomizada desde 1992, Maria Odete tem agora 61 anos e é catequista de adolescentes há 46.
Nasceu com espinha bífida e mielomeningocele. Sofria com infeções urinárias frequentes e recorreu muitas vezes à urgência, até que fez uma retenção urinária de 72 horas que a levou para o Hospital Amato Lusitano, em Castelo Branco, onde ficou internada.
Fez exames, análises e dieta líquida durante 15 dias porque precisava de perder peso antes de ir para o bloco operatório. Chegado o dia, muitos, no hospital, não acreditavam que Maria Odete sobrevivesse à cirurgia. Mas o médico-cirurgião acreditava e conseguiu tranquilizar Maria Odete, que já sabia que ia ficar ostomizada. Tinha sido muito bem preparada na noite anterior, em conversa com o médico que a ia operar.
Tudo quanto esteja relacionado com o material da urostomia, Maria Odete aprendeu sozinha - como trocar, como adquirir, etc. Estava ciente das mudanças, mas não quis depender de ninguém desde o início, nem da mãe.
Não se deixa limitar pela urostomia e tenta não se deixar abater pelos desafios que a sua condição lhe traz. Recorda um episódio, em particular, em que foi a França de autocarro e, durante a viagem, o saco encheu na totalidade. Maria Odete teria de o despejar, obrigatoriamente. Então, pediu ao motorista que parasse, assim que possível, e lá se desenrascou.
Também já acampou e não abdica da praia. Prefere usar um fato de banho de calção, que tape muito bem o saco. O essencial, é sentir-se confortável. Não gosta de se expor e usa roupas largas, uma cinta e fralda, já que não tem praticamente controlo no esfíncter (afetado por uma intervenção cirúrgica a que foi submetida ainda em criança). A única vez que se lembra de ter usado um vestido justo, acabou por correr mal e, quando deu por ela, estava toda molhada. No entanto, são raríssimos, estes acidentes, tendo acontecido apenas uma ou duas vezes até à data.
Sente, ainda, alguma dificuldade com o material da urostomia. A transpiração interfere com a cola, embora, durante muitos anos, isto não tenha sido problema. Mas é proativa na procura de soluções e vai testando vários produtos.
No que a hobbies concerne, Maria Odete gostava de praticar hidroginástica, mas tem receio de estar na piscina. Todavia, o receio que sente da piscina está no extremo oposto da coragem que tem vindo a demonstrar, ao atuar em espetáculos para públicos que levam 800 pessoas (que pagam para a ouvir cantar, inclusive).
Apesar de ter 70% de invalidez, gostava de fazer mais, só que veria o seu subsídio cortado, além de que não conseguiria garantir ao empregador que seria capaz de cumprir horários.
De qualquer forma, é uma mulher cheia de garra que não desistiu de viver e de ser feliz.